A colonização japonesa no extremo sul baiano

Por: Teoney Guerra
18/06/2018 - 12:57:19

Por: Teoney de Araújo Guerra*

Neste ano, a imigração japonesa no Brasil completa 110 anos. Página importante da nossa história, cuja celebração, em quase todo o território nacional, se dá a partir deste mês de junho, em razão de ter sido no dia 18 de junho de 1908, que o navio Kasato aportou no porto de Santos (SP), trazendo os primeiros imigrantes japoneses para o nosso país.

Com o aumento da imigração, famílias de japoneses espalharam-se para outros cantos do Brasil, como para o norte do Paraná, de onde vieram os primeiros japoneses e nisseis – filhos de japoneses - que, juntamente com outras famílias, vindas de São Paulo, aqui fixaram residência e deram uma importante contribuição para o desenvolvimento da agricultura local, com a diversificação de culturas, a adoção de novas técnicas e implantando a produção em larga escala.

A cidade de Caravelas foi onde teve início essa história, em março de 1955, quando um avião que sobrevoava a região, de volta para o Paraná, apresentou uma pane e o piloto teve que fazer um pouso forçado no aeroporto da cidade. No avião viajava Armando Chiamurella, um empresário, descendente de japoneses que, durante os três dias em que permaneceu em Caravelas, enquanto a aeronave era consertada, teve a oportunidade de conhecer um pouco sobre os coqueiros nativos existentes em toda a orla, e se interessou em introduzir o cultivo do coco, torná-lo uma cultura, uma atividade agrícola.

Retornando a Londrina, Chiamurella enviou para a região três conhecidos seus: Luís Otha, Masato Sasski e Serafim Branquela, visando iniciar o projeto do cultivo do coco. Os três se fixaram no vilarejo de Taquari, localizado a 36 km de Caravelas. No ano seguinte vieram os Tadaka e Saikawa; depois, as famílias Takayama, Takahashie Kinjo, de São Paulo, e o próprio Chiamurella, que fundou a empresa Colonizadora Caravelas e depois, em 1957, a Coqueiral Empreendimentos Agrícolas, iniciando a plantação e o manejo de coqueiros para fins comerciais.

Porém, o coqueiro revelou ser uma cultura que exigia muito tempo para atingir o ponto de colheita – acima de 10 anos -, o que causou dificuldades financeiras para os colonos, que, visando superar essas dificuldades, introduziram outras culturas “complementares”: abacaxi, melancia e algumas hortaliças, que passaram a produzir e comercializar, obtendo renda temporária, enquanto aguardavam o início da colheita do coco.

Áreas de terras devolutas foram doadas pelo Estado, e outras, vendidas aos novos colonizadores, e assim, diversas colônias foram formadas, na década de 60, assentando os japoneses e seus descendentes, que chegavam às dezenas, além de alguns chineses. A principal delas foi a Colônia Lomanto Júnior, que abrigou 15 famílias japonesas e 10 chinesas.

Por toda a década de 60, essa população de orientais cresceu, com imigrantes vindos principalmente do interior paulista, incentivados por várias matérias publicadas em edições seguidas da revista “Koya no Brasil”, editada em São Paulo e distribuída para as diversas colônias de japoneses e nisseis existentes no nosso país, que destacavam como promissora a cultura do coco no extremo sul baiano. Essa ocupação se dava no município de Caravelas e imediações. Na época de maior fluxo, meados da década de 80, essa comunidade nipônica chegou a ter mais de 200 pessoas.

Além do abacaxi, melancia e hortaliças, os colonos trouxeram para a agricultura local, ainda, novos tratos culturais, tornando a região uma grande produtora de melancia, mamão, melão e abóbora. 

Porém, o coco não deu os resultados esperados e os colonos se dedicaram às outras culturas. Alguns passaram a se dedicar a outras atividades, como a pecuária e o comércio.

Com o malogro da cultura do coco, a partir da década de 1970 os colonos passaram a abandonar as colônias, mudando-se especialmente para Teixeira de Freitas, então um povoado próspero, onde passaram a cultivar verduras e legumes que vendiam na feira. Outros se dedicaram ao cultivo do mamão, que, através de cooperativas, passou a ser comercializado para outras regiões do Brasil. Na década de 90, o número de japoneses e nisseis residentes em Teixeira de Freitas já somava mais de 100 famílias.    

Essa migração para Teixeira de Freitas se acentuou a partir do início dos anos 70. Dessa forma, as colônias foram ficando despovoadas e depois, abandonadas.

Além de Teixeira de Freiras, outras povoações da região, como o povoado de Eunápolis e a cidade de Itamaraju receberam japoneses e nisseis a partir dos anos 70. Eunápolis recebeu, em 1975, Suekichi Seguchi e família, que aqui fundaram a Floricultura Aimoré, no ano seguinte, o odontólogo Paulo Shigetô, e na década seguinte, Shigueteru Nishioka, Shizue Nishioka e Guishi Shigetô, além de outras famílias, que aqui implantaram o projeto Cotia, que produziu melão, pepino e pimentão, gêneros que chegaram a ser vendidos para o sudeste. Até o ano de 1988, chegaram a Eunápolis 30 famílias de imigrantes japoneses e nisseis, que aqui fundaram a Associação Cultural Nipo-Brasileira de Eunápolis e uma escola da língua japonesa. Porém, o projeto Cotia entrou em decadência e encerrou suas atividades em 1992.

Depois da dispersão dos imigrantes das colônias, o mamão passou a ser a principal cultura, não apenas para os ex-colonos, mas para os produtores rurais, de uma forma geral, o que tornou o extremo sul baiano um grande produtor do mamão Hawaii, em fins dos anos 80. Outra fruta que ficou tendo grandes plantios foi a melancia.

Durante esse período, foi constituída aqui no extremo sul baiano, uma importante comunidade nipônica, que além de contribuir para a modernização e diversificação da agricultura local, aqui criou várias associações, cooperativas, escolas e clubes.    

Entretanto, a falta de melhores perspectivas motivou, a partir dessa mesma década de 90, o retorno de muitas dessas famílias e a saída dos nisseis jovens, para outras partes do país ou mesmo para o Japão. Ficando, entretanto, muitos dos que fizeram essa história, e os “frutos”, especialmente para a agricultura.  

*Teoney de Araújo Guerra é jornalista e pesquisador da história de Eunápolis

Este texto foi produzido tendo como base para pesquisa, o livro “JAPONESES NA CONQUISTA DO NORDESTE – 40 ANOS DA COLONIZAÇÃO JAPONESA NO SUL DA BAHIA”, editado pela Associação Cultural Esportiva e Agrícola Sul da Bahia (Teixeira de Freitas), em junho de 1997, tendo como redatores: Itsuro Akahori e Shiguemasa Kinjô.   

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