Porto na rota das baleias ameaça espécie e turismo em Abrolhos

Por: Extremus21.com.br
10/07/2017 - 14:12:56

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Depois de comemorar a saída da baleia Jubarte da lista de espécies ameaçadas de extinção, os ambientalistas agora se preocupam com os impactos que a construção de novos portos no estado do Espírito Santo, local de passagem das baleias para chegar a Abrolhos, possam causar à espécie

Além dos milhares de quilômetros a percorrer, das redes de pescas e dos predadores naturais, a construções de portos são a nova ameaça. Cerca de 20 projetos aguardam licença para serem construídos no estado do Espírito Santo. Um deles, o Porto Central de Presidente Kennedy de economia privada, ligado ao Porto de Hoterdã (Holanda), aguarda apenas a licença de instalação para o início da obra. No material de divulgação, consta que será mais do que um porto, trata-se de um complexo industrial portuário para receber grandes navios.

O mês de julho marca o início das aparições das baleias Jubarte na Bahia. Milhares delas, cerca de 9 mil, saem da Antártida e chegam em Abrolhos, o maior berço reprodutivo da espécie. Um movimento natural e cíclico, que está prestes a ganhar uma nova ameaça

Especialistas ouvidos pelo Extremus21 concordam que a existência do porto aumenta a movimentação e trânsito marítimo numa área utilizada pelas jubartes na rota migratória, aumentando os riscos à espécie. A presença dos animais proporciona um espetáculo inigualável no litoral baiano, movimenta o turismo e a economia da região.

Harmonia com os homens

Depois de meio século sob ameaça de extermínio, jubartes foram salvas da extinção e hoje enfrentam um novo perigo: a nossa geração de humanos não sabe conviver com esse volume de baleias no mar. “Isso é uma experiência de quem navegava por estas águas no século XIX”, diz Milton Marcondes, coordenador de pesquisa do Instituto Baleia Jubarte, que apesar de comemorar o crescimento da população faz ressalvas.

A população de baleias, que cem anos atrás era de aproximadamente 25 mil animais, foi reduzida a quase 2% (cerca de 500 animais) em meados do século XX, e hoje estima-se uma população de 20 mil e um aumento anual estimado em 10,5%. Para a temporada 2017 de reprodução e amamentação nas águas mornas e calmas da costa brasileira, entre os meses de julho e novembro, os pesquisadores do Instituto Baleia Jubarte esperam pelo nascimento de cerca de 2 mil filhotes.

Em 2014, as baleias jubartes foram reclassificadas como ‘quase ameaçadas’ e hoje precisam dividir o espaço com o homem, que quase a dizimou com a caça predatória no Oceano Antártico. Quanto mais baleias, mais difícil é a harmonia entre os animais e embarcações.

Economicamente, o aumento da população é positivo. Abrolhos é uma das melhores regiões no mundo para observação de baleias, atividade que movimenta mais de US$ 2 bilhões por ano no mundo. O contato próximo com os animais é crucial para a conscientização da sociedade, além dos benefícios econômicos gerados para as comunidades locais.

Há ainda outra vantagem no aumento da população de baleias: “elas se alimentam nas águas frias, ricas em nutrientes, e trazem estes nutrientes para as águas tropicais, que são liberados através das fezes ou pela decomposição de baleias mortas. Isso favorece a proliferação de outros organismos”, ressalta Milton Marcondes.

Canto para atrair

Inicialmente, não há risco de extinguir a espécie novamente, mas as construções e as atividades dos portos nesse trajeto pode prejudicar a recuperação da população porque aumenta o risco de atropelamento e sofrimento para os animais.

O Porto Central de Presidente Kennedy, por exemplo, fica na rota migratória da jubarte entre os meses de junho e novembro. Existe uma preocupação atropelamentos provocados pelas embarcações grandes. O próprio Instituto Baleia Jubarte faz pesquisas com as baleias que morrem encalhadas, e há muitas com marcas de hélices, dando indícios dos riscos do porto.

O ambientalista Thiago Ferrari, presidente do Instituto O Canal, ressalta que, além das baleias jubarte, há outros cetáceos, como o boto cinza, que se alimentam próximo à foz dos rios e do litoral, e a construção do porto reduzirá a quantidade de peixes nestas áreas e afastará o boto cinza da costa.

“Apesar das baleias se concentrarem mais no banco dos abrolhos, elas precisam cruzar todo o litoral do Espírito Santo para chegar e para sair do Brasil. E nada impede que os navios que saiam de portos no sul do Espírito Santo venham a cruzar a região do banco dos abrolhos. Por isso, o aumento de tráfego de embarcações que vem junto com a construção de novos portos implica em maiores riscos de atropelamento, além de aumento do ruído no ambiente marinho (motor do barco), lembrando que a jubarte usa o canto para atrair as fêmeas no período de reprodução”, explica o ambientalista.

O porto capixaba será construído numa área de aproximadamente 2.000 hectares. Trata-se de um porto de águas profundas com até 25 metros de profundidade, capaz de receber navios de grande calado. Segundo Jéssica Chan, diretora comercial do Porto Central, o IBAMA está finalizando a análise dos estudos e programas ambientais apresentados pelo Porto Central, dos quais incluem os impactos sobre cetáceos, para emissão da Licença de Instalação.

O Porto Central servirá para grandes empresas dos setores de petróleo e gás, mineração, agrícola, de apoio à indústria offshore, assim como estaleiro e terminal de contêiner e carga geral que movimentarão cargas diversas como veículos, produtos siderúrgicos, coque de petróleo para cimenteiras, soja e fertilizantes, carvão, GNL, rochas ornamentais, etc.

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