No início de um relacionamento, é comum idealizarmos a outra pessoa. Projetamos nela desejos, sonhos, atitudes e comportamentos que gostaríamos de ver, muitas vezes sem perceber. Criamos expectativas, conscientes ou não, sobre como o outro deve agir, amar, se comunicar, demonstrar carinho, resolver conflitos. E, com o tempo, quando a realidade se apresenta diferente do que imaginávamos, a frustração bate à porta.
Mas por que isso acontece? Porque esperamos que o outro seja exatamente como gostaríamos — e não como ele é de fato. A raiz dessa frustração está menos no comportamento alheio e mais nas expectativas que criamos, muitas vezes sem comunicá-las ou sem avaliar se são realistas.
A expectativa é como um roteiro que escrevemos para o outro, sem entregar uma cópia a ele. Esperamos que ele siga falas e ações que só existem em nossa mente. Quando ele sai do script — o que é inevitável, porque ele tem a própria forma de amar, sentir e agir —, nos sentimos ignorados, desvalorizados ou até traídos.
Idealizar o parceiro ou parceira pode ser natural no início, mas quando a idealização se mantém, ela impede que enxerguemos a pessoa real ao nosso lado. A relação deixa de ser entre dois indivíduos e passa a ser entre uma pessoa real e uma fantasia criada na mente do outro. E isso inevitavelmente leva à decepção.
Quando o outro não corresponde às nossas expectativas, temos uma escolha: culpar, cobrar e tentar moldar a pessoa aos nossos desejos, ou olhar para dentro e compreender o que essa frustração está querendo nos dizer.
Será que estamos esperando algo que nunca foi prometido? Será que estamos tentando encontrar no outro uma forma de preencher nossas inseguranças, carências ou vazios emocionais? Será que estamos confundindo necessidade com amor?
Essas perguntas, embora desconfortáveis, podem abrir espaço para um processo de autoconhecimento que transforma não apenas o relacionamento, mas a forma como nos relacionamos conosco.
É comum interpretar a falta de correspondência como desinteresse ou descaso, mas isso nem sempre é verdade. Às vezes, o outro te ama, mas expressa esse amor de uma forma diferente da sua. Enquanto você espera palavras, ele oferece atitudes. Enquanto você quer proximidade emocional, ele oferece praticidade. Isso não significa falta de sentimento, mas sim diferença de linguagem afetiva.
Entender que o outro tem um universo emocional próprio é fundamental para uma convivência mais saudável. Isso exige diálogo aberto, escuta empática e disposição para compreender, em vez de julgar.
Muitas expectativas frustradas nascem da falta de comunicação. Esperamos que o outro “adivinhe” o que queremos, ou que ele aja de determinada maneira sem que isso tenha sido conversado. Criamos a ilusão de que, se ele realmente nos amasse, faria certas coisas automaticamente.
Mas o amor não é leitura de pensamento. É responsabilidade de cada um expressar com clareza o que sente, o que precisa, o que deseja. Da mesma forma, é saudável também estar disposto a ouvir o que o outro pode ou não oferecer.
Há uma linha tênue entre adaptar expectativas e aceitar menos do que se merece. Às vezes, a incompatibilidade é grande demais. O outro não está disposto a mudar, nem a construir pontes de entendimento. Nesse caso, persistir pode ser um caminho de dor e desgaste.
Ninguém é obrigado a mudar por ninguém. Mas também ninguém é obrigado a permanecer em uma relação onde suas necessidades básicas não são respeitadas. Avaliar até que ponto é possível ajustar as expectativas sem se anular é um passo fundamental para decisões maduras.
Quando o outro não corresponde às suas expectativas, o amor-próprio é o que sustenta sua autoestima e sua clareza emocional. Ele te lembra que você merece ser ouvido, considerado e valorizado, mas também que não é justo colocar todo o peso da sua felicidade nas mãos de alguém.
Amor-próprio é o que te impede de se perder tentando forçar o outro a ser quem ele não é. É o que te ajuda a perceber se está em uma relação de crescimento ou de frustração contínua. É o que te guia na difícil, porém libertadora, decisão de ficar ou partir. agenda31
Relacionamentos são feitos de duas realidades que se encontram — e nem sempre se encaixam. Aprender a lidar com as expectativas frustradas é parte do amadurecimento emocional. É nesse processo que nos tornamos mais conscientes, mais inteiros e menos dependentes da validação alheia.
Nem sempre o outro vai agir como você espera. E tudo bem. A grande pergunta não é “por que ele não corresponde?”, mas sim “o que eu faço com isso?”. A resposta está dentro de você. E é nela que começa o verdadeiro poder de escolha.