As perguntas sobre vulcões que a ciência ainda não sabe responder

Por: BBC / News Brasil
05/10/2021 - 07:03:26

 


Por: Antonio M. Álvarez Valero
The Conversation*

Viver nas encostas de um vulcão carrega obviamente um risco muito elevado. Os habitantes das áreas afetadas pelos fluxos de lava e piroclastos (fragmentos de rocha expelidos na erupção) da espetacular erupção na bela ilha de La Palma, nas Canárias, estão sofrendo com a perda de suas casas.

Diante disso, é a ciência que deve dar uma mão. Uma mão informativa. Porque a ciência só pode tentar compreender para explicar os processos da natureza, mas não pode pará-la; nem um sistema vulcânico como este, nem a dinâmica atmosférica que um tufão gera, nem a dinâmica litosférica que move algumas placas tectônicas para mais perto e para longe umas das outras.

Sempre podemos estudar e compreender para reagir melhor, mas nunca deter a natureza.

Explicar a erupção

Pouco se pode acrescentar a tudo o que foi mencionado e descrito até o momento deste episódio de erupção.

Muito foi explicado nas primeiras entrevistas em improviso (algumas até mesmo no solo) por técnicos e cientistas. Eles têm se esforçado para atender também a esta frente de informação, em qualquer nível de conhecimento, desde a disseminação para crianças em idade escolar (o que é um vulcão, qual a diferença entre magma e lava, etc.), até o mais avançado detalhe científico (química composição, mecanismos de desgaseificação, imagens de satélite, atividades de monitoramento, etc.).

Mas tudo isso não parece ajudar no que é necessário.

A erupção por definição na Geologia vai de efusiva a levemente explosiva, porque o magma que a nutre é de composição básica, ou seja, pobre em sílica e pouco viscoso e, portanto, de emanações fluidas de lava. Essa composição química do magma pode alimentar erupções do tipo estromboliano (erupções medianamente explosivas), como no caso de La Palma, ou do tipo havaiano (erupção efusiva) — que todos reconhecemos como "torneiras abertas" de lava que flui rapidamente nas ilhas havaianas.

As estrombólicas em comparação com as havaianas são apenas ligeiramente mais explosivas, e com uma capacidade de fragmentação e dispersão ligeiramente maior do material ejetado e a altura da coluna eruptiva.

Estão longe da capacidade explosiva das erupções do tipo vulcaniana, pliniana ou peleana, por exemplo, com lavas viscosas e erupções muito violentas (como as do Vesúvio, Santa Helena, Pinatubo, etc.). Ou mesmo aquelas erupções hidromagmáticas, em que a interação água-magma pode gerar erupções muito explosivas.

Na verdade, se La Palma fosse uma ilha desabitada, estaríamos simplesmente desfrutando (ciência e turismo) das maravilhas que a natureza nos dá de vez em quando: uma erupção vulcânica "tranquila" ao alcance da nossa mão (ou do selfie). Porém, com vidas humanas em perigo, essas informações e detalhes oferecem pouco conforto e não satisfazem a curiosidade (necessidade?) da sociedade sobre quando, em que dia, o vulcão finalmente deixará de rugir.

A explicação científica do especialista visa fornecer ferramentas de conhecimento suficientes para que a sociedade encontre o equilíbrio entre estar alerta e manter a serenidade suficiente para reagir com eficiência, estando conscientes de um cenário tão particular (estamos falando de um vulcão que atinge municípios habitados).

Perguntas sem resposta

Infelizmente, a ciência ainda não tem resposta para as duas questões-chave da vulcanologia:

  • quando e como ocorre a preparação da câmara magmática em profundidade, que gera e alimenta a erupção na superfície,
  • e em que momento cessa a atividade eruptiva, principalmente de material sólido.

Para a primeira questão, a ciência tem os detalhes estudados em erupções anteriores junto com ferramentas de monitoramento que, no caso de La Palma, funcionaram perfeitamente para alertar a população de que o vulcão estava ficando nervoso.

Até 15 cm de deformação (protuberância) do solo e oito dias de terremotos acabaram desembocando na erupção.

Honesta e humildemente, devemos admitir que não sabíamos se 4, 15 ou 40 cm, assim como 5, 8 ou 100 dias de terremotos seriam os números precisos antes da erupção. É aqui que todos os grupos de pesquisa em todo o mundo devemos continuar nossos esforços científicos.

Como um exemplo próximo, a contribuição do nosso grupo do Departamento de Geologia da Universidade de Salamanca para esta previsão desejada concentra-se na comparação da chegada do sinal geofísico (terremotos e deformação) com o sinal geoquímico (liberação de gás do manto quando o magma câmara antes que a erupção já esteja em andamento).

No caso de Tagoro (ilha de El Hierro) em 2011, verificamos como o sinal geoquímico avisou a geofísica com antecedência da chegada daquela que foi a última erupção (subaquática) no arquipélago.

Para a segunda preocupação, não é necessário ser um cientista para assumir que a atividade vulcânica termina quando o reservatório magmático se esvazia o suficiente para relaxar a pressão interna que o desestabiliza. E a ciência ainda não consegue prever esse ponto de verificação.

Uma parada específica na emissão de lava como a que aconteceu no domingo (26/09) em La Palma pode indicar o início do fim da erupção, ou o início do fim de um pulso eruptivo aguardando a chegada de um novo.

A partir de agora, a primeira emergência será atender e indenizar as famílias afetadas. Depois, quando o material esfriar um pouco, será preciso ler atentamente as informações que o interior do planeta nos escreveu no material expelido por esta erupção.

As rochas (piroclastos e lavas solidificadas) e seus componentes (inclusive minerais e voláteis) são testemunhas do que aconteceu em profundidade, antes e durante a erupção. Estudando-as, poderemos entender melhor o processo eruptivo sob La Palma, para que a ciência continue avançando e se aproximando de melhor restringir as condições em que ocorrerá a próxima erupção, ciente de que ela chegará sem que o homem ou a ciência possam impedi-la. A natureza é invencível.

Quando tudo isso acabar, teremos mais ferramentas de conhecimento para enfrentar a próxima erupção, em geral, e em La Palma, em particular: uma paisagem, assim como um mapa topográfico-geológico, novo ou modificado, mas extremamente belo.

* Antonio M. Álvarez Valero é professor titular do Departamento de Geologia da Universidad de Salamanca.

Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado aqui sob uma licença Creative Commons. Leia aqui a versão original (em espanhol).

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