HAVIA UM RIO...

Por: Roberto Martins
23/12/2023 - 20:14:00

Para Urbino Brito, o guardião do rio

Tu sabes? Outrora havia um rio, um grande rio, cheio d’água.
Tu já viste um rio cheio d’água?
Pois é, havia, havia aqui.
Era um rio tão cheio d’água...

E tu sabes que a água é a fonte da vida?
Pois é: o rio era cheio d’água, logo, cheio de vida!
Em suas águas viviam tantos peixes que o rio ganhou o nome:
Rio dos Peixes!

E suas margens? Ah! em suas margens habitavam imensas florestas
Florestas cheias de grandes árvores: Jacarandás, paus-brasil,
Pequis, vinháticos, canelas...
Não tinha cravo, mas tinha a cor de canela e a árvore doce.

Suas margens eram também cheias de Buranhém,
A árvore doce, da casca doce, do fruto doce,
Que adoçava a vida dos nativos e lhe deu o nome original:
Rio Buranhém!

O rio vem lá do alto das serras das gerais mineiras,
Caminha sinuosamente por entre serras e morros, baixios e planos,
Até desaguar, lá longe, no mar.
Naquele porto, que desde Cabral, chamam de seguro.

Foram milhões os seres vivos, vegetais e animais que se nutriram de suas águas.
De onças pintadas aos pequenos coelhos e preás.
Da imponente anta, aos veados e cotias.
E todos os tipos de macacos, do prego, aos saguins.

Afora aqueles, além dos peixes, que vivem em suas águas:
Jacarés, jiboias, lontras e ariranhas, tartaruga d’água
Todos a curtirem seu frescor e os alimentos encontrados em seu leito,
Leito farto de vida!

Afora o animal de dois pés, altivo, consciente da vida:
Plantava, colhia, caçava, coletava os frutos.
Mas nunca demais, sempre pensando no amanhã:
No amanhã a mesma terra alimentaria seus filhos.

Mas um dia o homem branco chegou, vindo de mares distantes.
As grandes árvores, cortou;
Dos animais, fez sei alimento;
Do rio, sua reserva de pesca.

De repente o rio começou a sentir:
Os homens retiravam muitas de suas águas para beber,
Banhar-se todos os dias, irrigar plantações e alimentar indústrias.
Devolve apenas os dejetos infectados!

E o rio foi perdendo suas águas, seu vigor, sua vida.
As pedras que guardavam as tocas onde viviam os pitus,
Mostraram-se como se costelas fossem,
Retratadas pela teleobjetiva de Urbino.

Pois é, o rio está mal,
Muito mal.
Sobreviverá? Quem sabe?
Quem sabe, talvez, um dia?
 
Tu sabias, tu viste?
Como ser vivo o rio nasce, o rio cresce, o rio corre,
Mas um dia o rio mostra suas costelas de pedras descarnadas:
O rio morre!

 

Por: Roberto R Martins, Eunápolis, 22/12/23.

Imagens feitas em 2012, 2015 e 2016.

 

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01 - https://nossacara.com/noticias/meio-ambiente/12379/buranhe-769-m-um-rio-agonizante-23-11-2015#

02 - https://nossacara.com/videos/12465/o-rio-buranhem-esta-morrendo-18-12-2015#

03 - https://nossacara.com/noticias/meio-ambiente/12499/buranhem-um-rio-agonizante-ii-06-01-2016#

04 - https://nossacara.com/noticias/meio-ambiente/12569/inversao-do-clima-enche-rios-e-corregos-em-eunapolis-e-regiao-25-01-2016# 

05 - https://nossacara.com/noticias/meio-ambiente/12570/sugismundos-desprezam-meio-ambiente-nas-margens-do-rio-buranhem-25-01-2016#

06 - https://nossacara.com/videos/12676/audiencia-publica-sobre-rio-buranhem-deixa-claro-que-estamos-a-beira-de-uma-crise-de-abastecimento-28-02-2016#

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